Depois de definir a Contabilidade de Gestão, vejamos, agora, se a contabilidade financeira nos pode fornecer as informações
indispensáveis à tomada de decisões relativas ao planeamento e controlo
das actividades empresariais.
Como sabemos,
a Empresa é o
organismo que reúne um conjunto de factores para, mediante determinado
processo, obter e trocar produtos com outros agentes económicos.
São factores todos os recursos
económicos ou meios de produção: capital e trabalho;
Entende-se por processo todo o conjunto de operações que, utilizando uma certa tecnologia, transforma os factores (“in-puts”) em produtos (“out-puts”).
Assim, em toda a empresa se desenvolve um ciclo económico que compreende as seguintes etapas:
- A captação de recursos financeiros;
- O aprovisionamento de factores, ou seja, a aplicação dos recursos financeiros em factores
produtivos;
- O processo de produção, isto é, a transformação dos factores em produtos;
- O armazenamento dos produtos;
- A comercialização dos produtos através da sua venda;
- A recuperação dos recursos financeiros, através das cobranças.
Compreende-se perfeitamente que, para a empresa, o aprovisionamento de factores (processo de trocas a montante da produção) e a comercialização de produtos (processo de troca a jusante da produção)
implicam relações com o exterior (movimento externo), ao contrário do que acontece com o processo de produção de valores (consumo, modificação, transformação ou conversão em produtos) no seio da própria empresa (movimento interno).
Ora, as informações fornecidas pela contabilidade financeira, respeitando às relações da empresa com o exterior, e obtidas a posteriori, pelo tratamento de dados históricos (contabilidade do passado) e, portanto, já inalteráveis, são veiculadas, fundamentalmente, pelas seguintes peças contabilísticas:
a) O BALANÇO, que nos mostra a situação da empresa em determinado momento (composição e valor do património; origem e aplicação
dos recursos da empresa) e o resultado global obtido em determinado período;
b) A DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS, que nos mostra
os custos e perdas e os proveitos e ganhos, classificados por natureza, os resultados operacionais, os resultados financeiros, os resultados correntes,
os resultados extraordinários, os resultados antes dos impostos, o imposto
sobre o rendimento e, finalmente, o resultado líquido do exercício;
c) O MAPA DA ORIGEM E APLICAÇÃO DE FUNDOS, que
nos apresenta uma síntese das variações ocorridas nas estruturas económica (fundos fixos e circulantes) e financeira (fundos próprios e alheios) da empresa, durante o exercício.
Muito naturalmente, estas informações são indispensáveis à gestão racional da empresa. Mas serão
suficientes?
Para já, não poderemos esquecer que aquelas peças contabilísticas são obtidas com base em normas rígidas (de avaliação e registo) e revelam um acentuado formalismo (na sua apresentação), evidenciando valores por vezes afastados da realidade económica, por
razões de ordem jurídica ou fiscal (amortizações, por exemplo) ou em consequência do princípio da prudência (não considerando ganhos potenciais).
Depois, convém recordar que aquelas informações são tradicionalmente obtidas considerando-se a
empresa como uma unidade financeira, gestora de um capital próprio, pelo que todo o processo da contabilidade financeira está orientado para a
determinação do excedente económico após a remuneração, certa e
contratada, dos factores de produção, sendo esse excedente (incerto e variável) repartido pelos factores ainda não remunerados até ao momento, fundamentalmente o capital próprio e o Estado.
Sendo esta preocupação prioritária da contabilidade financeira, é natural que as respectivas informações não satisfaçam as múltiplas e diversificadas necessidades da gestão.
De facto, a demonstração dos resultados, que nos apresenta uma análise condensada e global do rédito da empresa, é sem dúvida o seu documento mais importante para os gestores, mas é evidente que a simples classificação dos custos e proveitos por natureza não permite:
- Determinar a eficiência da empresa, como unidade financeira;
- Analisar as condições internas da exploração, isto é, calcular os custos e rendimentos das várias
divisões, secções e centros de trabalho da empresa, para detectar quaisquer anormalidades e promover a sua imediata correcção, ou seja, para controlar a exploração;
- Apurar os custos dos produtos fabricados e vendidos e, consequentemente, estabelecer bases adequadas para a avaliação das existências, as quais terão de ser contabilizadas, necessariamente, pelo método do inventário periódico ou intermitente;
- Apurar as margens dos seus diversos produtos, isto é, as diferenças entre os proveitos e os custos de produção directamente vinculados à obtenção e venda de cada produto, para saber se ganha ou perde em todos ou só em alguns e, consequentemente, poder decidir racionalmente
quanto aos futuros programas de fabrico e vendas (reduzir, manter ou aumentar a produção e venda deste ou daquele produto).
Por outro lado, embora os custos futuros raramente coincidam com os custos passados ou históricos, a verdade é que estes são ainda a melhor base de previsão, pelo que o seu desconhecimento não permite qualquer planeamento e, posteriormente, o respectivo controlo.
Finalmente, sabemos
que a contabilidade financeira negligencia todos os fenómenos que se não
apresentem sob forma monetária, ignorando totalmente os chamados custos materiais (quantidade de matérias
consumidas, tempo de trabalho da mão de obra, número de Kw/h gastos, tempo de trabalho das máquinas,
etc.), em relação a um produto ou a um determinado período, os quais muitas vezes são fundamentais para explicar os resultados obtidos.
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